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A Extinção Do Programador Sênior

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Quando foi a última vez em que você viu um programador sênior? Eu tenho tido sérias dificuldades para encontrar algum. Acho que se estivesse procurando ararinhas azuis teria tido mais sucesso — será que alguma toparia programar? Desconfio que não. Consciente da causa ecológica, ela me diria: cada ararinha programando toma o lugar de um programador sênior, que é de uma espécie muito mais em risco do que eu. E bateria as asas em retirada.

É claro que, ao contrário da pobre arara, o programador sênior ainda existe, e em grandes quantidades. Mas algo deu errado na evolução da sua espécie que, ao invés de melhorar, foi substituída por uma variedade mais fácil de reproduzir, bem adaptada ao cativeiro, de comportamento dócil, capaz de passar anos fazendo a mesma coisa e com duas opções de cor: terno preto ou azul. E que, curiosamente, não consegue programar. Eu já vou batizando essa variedade de programador senhor.

Estou falando por experiência própria. A empresa em que eu trabalho está recrutando um “programador sênior” há alguns meses. Dada a indisponibilidade dos colegas no nosso networking (o que nos pouparia um grande tempo), resolvemos apelar e buscar no mercadão de trabalho (vulgo apinfo, catho, essas coisas). Nós filtramos dezenas de currículos, conduzimos entrevistas, aplicamos testes. Com isso, conseguimos achar diversos programadores senhores mas nenhum propriamente sênior. A maioria tinha 10+ anos de carreira, 30+ anos de idade e -1 noção para bolar respostas satisfatórias para questões como:

  1. Como dois programas podem se comunicar?

  2. O que são threads?

  3. Implemente o fizz buzz na linguagem que preferir.

E assim por diante. Nada muito específico: preferimos encontrar gente que tivesse convivido com certos problemas, independente da tecnologia adotada. Gente demonstrasse senioridade propriamente dita: maturidade, bom senso, raciocínio, segurança. E conhecimento suficiente para não achar que a chave de todos os problemas é uma consulta ao Google (houve quem confessasse isso). Não encontramos essa gente ainda, mas em compensação vimos muitas pessoas bem intencionadas, certamente esforçadas, mas com imensas dificuldades para concatenar opiniões a respeito de conceitos que julgamos básicos e, no nosso negócio, fundamentais.

Sequer exigimos que o candidato conheça tópicos como controle de versão, orientação a objetos, design patterns, agilidade e etcetera, que são sinais mais do que evidentes de maturidade. Já entendemos que tudo isso está além dos limites do habitat do programador senhor. São coisas tão exóticas quanto um programador sênior genuíno, que só deve existir em áreas de proteção ambiental, como este blog.

(Às araras azuis que estiverem interessadas no recrutamento: por ora concluímos o processo, mas não deixem de entrar em contato.)

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